No silêncio onde os nomes ecoam mais que gritos, uma engrenagem oculta move-se entre as sombras das instituições e os estalos de plástico das cadeiras empilhadas ao fim da votação. O Âmbito — nome técnico, quase litúrgico — não é apenas uma operação: é um mapa invisível desenhado com agulhas sobre a carne viva da democracia.
Enquanto o povo dormia, a palavra foi negociada. Não a palavra dita, mas a que mora na estrutura simbólica da Casa do Povo. Os que detêm essa palavra — múltiplos, hierárquicos, às vezes invisíveis — trocaram dignidade por cifras, e história por cliques.
O coração do Âmbito pulsa a denúncia de uma compra, mas ecoa o sequestro de uma ideia. No dia 3 de abril, numa manhã comum, a vontade popular foi dividida em pedaços, vendida por cédulas, favores e tapinhas nas costas.
Entre carros de ré e olhares desviados, um nome antigo reaparece: TEMPONI. Ex-voz da Casa do Povo, hoje tratado como pivô do escândalo. Mas a verdade é dura: estão batendo em cachorro morto. TEMPONI já está fora. É o rosto que serve para a fumaça, enquanto os vivos — os que realmente estão no poder — continuam articulando nos bastidores, fingindo sono leve enquanto ouvem o som das sirenes ao longe.
Ele não veio só. Vieram outros. Não os poetas da política, mas os operadores do voto comprado. Vieram com o bolso cheio e o olho seco. Vieram para manipular o poder, reescrever a ética e vender o povo que fingem representar.
Na outra margem do rio político, um homem real: o líder comunitário. Baixinho, pastinha na mão, vinte anos de luta. Apagaram sua história com uma caneta de cifras. Ele formou, ensinou, defendeu — mas perdeu para quem ofereceu dinheiro por silêncio e voto.
O Âmbito não é um lugar. É um campo de guerra moral. Um espaço onde a justiça sangra e a verdade rasteja. A Polícia Federal não busca só culpados — ela busca o sistema. O modo operante. O escopo. Quando ela chama de “Âmbito”, denuncia não um, mas todos que agem na penumbra.
E agora? As luzes começam a acender. O palco está montado. Os papéis foram trocados. Mas o público começa a entender a peça. E nesse novo ato, já não há mais onde se esconder.
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