A Justiça é universalmente simbolizada por uma balança equilibrada, representando imparcialidade e equidade. No entanto, em Moçambique, essa balança muitas vezes inclina-se em favor daqueles que possuem recursos financeiros, deixando a população comum desamparada. Mas quando exatamente a Justiça pesa mais no bolso neste país?
Eu tenho três amigos moçambicanos e, após várias conversas com eles, resolvi escrever este artigo. Eles sempre me relataram situações em que a corrupção e o desvio de recursos estavam presentes, e a forma como isso afetava a população. Movido por essas informações e após realizar algumas pesquisas, estou aqui escrevendo para trazer à tona uma realidade que muitos conhecem, mas poucos falam abertamente.
Desvios de Fundos e Corrupção Sistêmica
Em 2020, o Banco Mundial suspendeu seu apoio ao Fundo de Gestão de Calamidades (FGC) de Moçambique após a descoberta de desvios de mais de 32,5 milhões de meticais. Esses recursos, destinados a auxiliar vítimas de desastres naturais, foram utilizados para a compra de veículos e construção de infraestruturas não relacionadas às calamidades, contrariando os objetivos do fundo.
Além disso, durante a pandemia de COVID-19, o Tribunal Administrativo moçambicano identificou "desvios de diversas formas" e "pagamentos indevidos" na gestão de aproximadamente 700 milhões de dólares recebidos de parceiros internacionais para combater a crise sanitária. Esses desvios evidenciam uma gestão inadequada e a presença de corrupção em momentos críticos para a nação.
Impacto na População e na Confiança Pública
A corrupção em Moçambique tem efeitos devastadores na economia e na sociedade. Um estudo estimou que, entre 2002 e 2014, o custo da corrupção para o país foi de aproximadamente 4,9 bilhões de dólares, representando cerca de 30% do PIB de 2014. Esses recursos poderiam ter sido investidos em saúde, educação e infraestrutura, beneficiando diretamente a população.
A percepção de que a Justiça favorece aqueles com maior poder aquisitivo mina a confiança da população nas instituições públicas. Casos de desvio de recursos destinados a emergências humanitárias, como os mencionados, reforçam a ideia de que a corrupção está enraizada nas estruturas de poder, prejudicando os mais vulneráveis.
Em uma conversa recente com um amigo moçambicano, a situação da corrupção no país foi trazida à tona. Ele compartilhou um pensamento que ressoou profundamente em mim, e que reforça o que muitos moçambicanos já me disseram ao longo do tempo: "Toda vez que tem alguma tragédia em Moçambique, tem um monte de gente que fica rico, e a população não recebe nada desse recurso. Mais de 95% é desviado." Isso reflete uma realidade dura e alarmante que muitos parecem conhecer bem, e que se alinha com a percepção generalizada de que, quando a ajuda chega ao país, ela acaba beneficiando aqueles que já têm poder, enquanto os mais necessitados ficam de mãos vazias.
Reflexão Final
Quando a Justiça pesa mais no bolso, ela deixa de cumprir seu papel fundamental de garantir equidade e proteção para todos os cidadãos. Em Moçambique, os inúmeros casos de corrupção e desvio de recursos evidenciam a necessidade urgente de reformas estruturais que promovam transparência, responsabilização e integridade nas instituições públicas. Somente assim a balança da Justiça poderá retornar ao seu equilíbrio ideal, servindo verdadeiramente ao povo moçambicano.
Para uma compreensão mais aprofundada sobre o impacto da corrupção em Moçambique, assista ao seguinte vídeo:]https://youtu.be/FiaI1vc5xWo?si=RQPvvJ92bdVDq8Yw.